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Técnicos de enfermagem RJ: carência que faz mal à saúde dos funcionários e pacientes |
A carência de auxiliares e técnicos de enfermagem nos hospitais municipais é muito grande, e isso não é de hoje. Mesmo assim, Miriam Lopes, presidente do Sindicato dos Técnicos e Auxiliares de Enfermagem do Rio de Janeiro (Satemrj), não acredita em concursos nessa área na gestão de Macello Crivella, que prefere recorrer às organizações sociais (OSs), cuja atuação não é recomendada pela sindicalista. Miriam já conversou com o prefeito sobre o déficit de pessoal, culpado pela sobrecarga dos profissionais, que têm sua saúde afetada por isso. O Satemrj reivindica concurso para estatutários e o aproveitamento dos remanescentes da seleção de 2011, embora já esteja vencida. A presidente do sindicato também critica a RioSaúde, do município, a Fundação Saúde, no âmbito estadual, e a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), por contratarem pelo regime celetista para os hospitais universitários federais.
FOLHA DIRIGIDA - No âmbito municipal, o prefeito Marcelo Crivella vem dando declarações de que a Saúde será prioridade em seu governo, e prometeu contratar concursados para suprir carências em hospitais como o Miguel Couto. A senhora acredita que ele vá conseguir amenizar esse déficit de pessoal na rede de saúde e melhorar o atendimento à população?
Miriam Lopes - O sindicato prima pelo funcionalismo público, cem por cento público. Temos mesa de negociação no estado, no município do Rio de Janeiro e no governo federal. Com relação ao município, a necessidade de RH não é de agora, vem de muito tempo. O prefeito não está chegando sem saber o que está acontecendo, ele já está ciente desse quadro, já está ciente de que queremos concurso público. Mas, pelo que eu acompanhei, se de fato novas contratações acontecerem, elas serão feitas por organizações sociais (OSs). Nós não somos contra o trabalhador contratado pelas OSs, mas somos contra essas organizações, pois massacram o funcionário, não dando os direitos necessários para que possa exercer seu ofício. Já temos inúmeros processos aqui, junto ao setor jurídico, em razão de não pagamento de horas extras e direitos rescisórios, por exemplo. Eu gostaria de acreditar que o prefeito vai fazer duas coisas: abrir concurso público e chamar os que estão à espera, do de 2011. O concurso de 2011 foi para auxiliar de enfermagem, categoria que está sendo extinta. Na gestão passada, conversamos com o doutor Daniel (ex-secretário de Saúde), e ele chamou 440, depois 200 e poucos. E agora, dos 880 que passaram, faltam mais ou menos 170. E quanto ao concurso de 2013, que tem prazo de validade para acabar este ano, das 90 vagas oferecidas, foram chamados mais de 700 técnicos de enfermagem, tamanha a necessidade do município de mais recursos humanos nessa área. Nossa categoria de técnico e auxiliar de enfermagem precisa ser reforçada, tanto nas unidades de grande emergência quanto nas unidades básicas.
A senhora já teve a oportunidade de conversar com o prefeito ou com o secretário municipal de Saúde, Carlos Eduardo, para passar esse cenário?
No ano passado já tivemos a oportunidade de falar com Crivella, em uma reunião informal que tivemos no Souza Aguiar, que assim como todos os hospitais do município está sofrendo muito com a falta de pessoal. Falamos com ele das dificuldades que estamos tendo quanto aos recursos humanos, principalmente nas grandes emergências, falamos sobre as condições de trabalho e plano de cargos, também. Este ano, no dia 2 de janeiro, ja foi protocolado um oficio para o gabinete do prefeito, para sentarmos e conversarmos sobre todas as reivindicações.
Como está composto o quadro de pessoal de auxiliares e técnicos de enfermagem, hoje, no município? A senhora saberia precisar a atual carência? Qual o impacto desse déficit de pessoal para a população?
As grandes emergências são as mais atingidas por esse baixo número de pessoal, pois são hospitais que recebem toda a demanda do Rio de Janeiro. Qualquer emergência que tenha, a pessoa vai para o Souza Aguiar, Salgado Filho, Miguel Couto. Então, essas unidades precisam urgentemente de mais profissionais, dada a demanda de pacientes. Fora que muitos não vão só para serem atendidos, mas para ficarem internados, o que exige uma atenção redobrada. As consequências dessa falta de RH em nossas categorias tem se revertido para um quadro alto de licenças médicas, dado o desestímulo, estresse e doenças que eles adquirem pelo excesso de trabalho, por falta da equipe completa. Já tivemos denúncia de auxiliar de enfermagem com 36 pacientes! Temos tido até casos de suicídio... E isso, fora a cobrança do paciente, que joga toda a frustração nesses profissionais, que ficam 24 horas no leito, dando banho e medicação. Outro fator agravante é que temos hoje uma demanda muito grande de gente que está para se aposentar, o que vai reforçar a necessidade de mais contratações.
Como a senhora enxerga o papel da RioSaúde, empresa da Prefeitura do Rio que realizou ano passado três concursos? Ela está conseguindo gerenciar de forma satisfatória as unidades de saúde a ela vinculadas?
Eu já estava no Conselho Municipal de Saúde na época da formação da RioSaúde, e não aprovei essa medida. A RioSaúde, em termos de gestão, não mostrou nada ainda desfavorável, mas eu a vejo de igual forma à Fundação Saúde. É o mesmo ritmo.. É concurso público, mas é um público/privado, que realiza contratações pelo regime celetista. Para os profissionais de saúde, é mais uma opção, pois é um trabalho diferente do das OSs, mas é mais uma opção que o governo tem para contratar. Mas, nós, do sindicato, somos contra qualquer tipo de contrato. Para que vamos pegar dinheiro público, colocar no caixa da OS, ou da RioSaúde, para gerenciar contrato? Deveriam abrir concurso. Por que não querem abrir concurso?
O prefeito Marcelo Crivella vem reivindicando a gestão de todos os hospitais federais no Rio. A Prefeitura do Rio tem, na sua visão, condições de assumi-los?
Particularmente, eu vejo isso como bom, pela questão do gerenciamento. Acho que o gerenciamento da prefeitura, em questão de organização, administração, é bom, se comparado ao do estado, que é péssimo. Quero acreditar que ele esteja fazendo isso para melhorar a questão do famoso Sisreg (sistema de regulação), responsável pelo agendamento de consultas. Isso pode ser um dos fatores pelo qual ele pode querer fazer isso, porque hoje o Sisreg está com filas imensas, por causa das poucas vagas em nossos hospitais federais. Mas, mesmo sabendo da situação do município, ele quer pegar a gestão dos hospitais federais? É algo que precisa ser pensado. Atualmente, são nove hospitais federais, se cada um deles abrisse mais vagas do que já abre (que são pouquíssimas), nossa fila de espera seria bem menor.
Em relação aos hospitais universitários federais, a UFF (Hospital Antônio Pedro) e a UniRio (Hospital Gaffrée e Guinle) já aderiram à Ebserh e estão com concursos em andamento. A senhora acredita que a gestão e a qualidade do atendimento à população vão melhorar com esse reforço de pessoal e com o gerenciamento da Ebserh?
Nós tivemos em 2013, 2014 e 2015, em todas essas universidades, principalmente na UFRJ do Fundão, discussões sobre a Ebserh. Nós brigávamos muito para que isso não entrasse, mas entrou, atropelando o sindicato, o conselho e o povo. Agora, eles estão abrindo concurso para a área de saúde, mas eu enxergo da mesma forma que enxergo a RioSaúde: com muita desesperança. Vão colocar na mão de uma contratada para contratar profissionais em regime celetista… A Ebserh e a RioSaúde são diferentes, sim, mas no fundo dá no mesmo, porque quando acabar a verba, quem sofrerá na ponta é o profissional que deixa de receber… E sofre o assédio de ter que ir trabalhar, caso contrário leva falta.
Como a senhora enxerga a decisão da Justiça Federal de obrigar o governo federal a abrir concurso para contratação de efetivos e uma seleção para contratação de temporários para o Hospital Clementino Fraga, da UFRJ, para substituir extraquadros?
A UFRJ é a única universidade que resiste a aderir à Ebserh. Ela está num jogo de damas. Pois o governo reluta em abrir concurso público, por isso a UFRJ está fazendo esse trabalho de contratação. O governo federal é um massacrador, que nem as OSs. Então, eles mandam fazer o que está acontecendo hoje. Não falam para abrir concurso, mas para contratar.. Querem terceirizar tudo. O serviço público te dá muita oportunidade para você estudar, pois não tem isso de "passar pela janela", como acontece com essas contratações que possuem muitas indicações e gente sem competência ingressando. E quem sofre com isso é o paciente, na hora do erro médico, da enfermagem, do erro de qualquer profissional que não for bem capacitado para esse ofício que deveria ser público, não privado.
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Miriam Lopes - O sindicato prima pelo funcionalismo público, cem por cento público. Temos mesa de negociação no estado, no município do Rio de Janeiro e no governo federal. Com relação ao município, a necessidade de RH não é de agora, vem de muito tempo. O prefeito não está chegando sem saber o que está acontecendo, ele já está ciente desse quadro, já está ciente de que queremos concurso público. Mas, pelo que eu acompanhei, se de fato novas contratações acontecerem, elas serão feitas por organizações sociais (OSs). Nós não somos contra o trabalhador contratado pelas OSs, mas somos contra essas organizações, pois massacram o funcionário, não dando os direitos necessários para que possa exercer seu ofício. Já temos inúmeros processos aqui, junto ao setor jurídico, em razão de não pagamento de horas extras e direitos rescisórios, por exemplo. Eu gostaria de acreditar que o prefeito vai fazer duas coisas: abrir concurso público e chamar os que estão à espera, do de 2011. O concurso de 2011 foi para auxiliar de enfermagem, categoria que está sendo extinta. Na gestão passada, conversamos com o doutor Daniel (ex-secretário de Saúde), e ele chamou 440, depois 200 e poucos. E agora, dos 880 que passaram, faltam mais ou menos 170. E quanto ao concurso de 2013, que tem prazo de validade para acabar este ano, das 90 vagas oferecidas, foram chamados mais de 700 técnicos de enfermagem, tamanha a necessidade do município de mais recursos humanos nessa área. Nossa categoria de técnico e auxiliar de enfermagem precisa ser reforçada, tanto nas unidades de grande emergência quanto nas unidades básicas.
A senhora já teve a oportunidade de conversar com o prefeito ou com o secretário municipal de Saúde, Carlos Eduardo, para passar esse cenário?
No ano passado já tivemos a oportunidade de falar com Crivella, em uma reunião informal que tivemos no Souza Aguiar, que assim como todos os hospitais do município está sofrendo muito com a falta de pessoal. Falamos com ele das dificuldades que estamos tendo quanto aos recursos humanos, principalmente nas grandes emergências, falamos sobre as condições de trabalho e plano de cargos, também. Este ano, no dia 2 de janeiro, ja foi protocolado um oficio para o gabinete do prefeito, para sentarmos e conversarmos sobre todas as reivindicações.
Como está composto o quadro de pessoal de auxiliares e técnicos de enfermagem, hoje, no município? A senhora saberia precisar a atual carência? Qual o impacto desse déficit de pessoal para a população?
As grandes emergências são as mais atingidas por esse baixo número de pessoal, pois são hospitais que recebem toda a demanda do Rio de Janeiro. Qualquer emergência que tenha, a pessoa vai para o Souza Aguiar, Salgado Filho, Miguel Couto. Então, essas unidades precisam urgentemente de mais profissionais, dada a demanda de pacientes. Fora que muitos não vão só para serem atendidos, mas para ficarem internados, o que exige uma atenção redobrada. As consequências dessa falta de RH em nossas categorias tem se revertido para um quadro alto de licenças médicas, dado o desestímulo, estresse e doenças que eles adquirem pelo excesso de trabalho, por falta da equipe completa. Já tivemos denúncia de auxiliar de enfermagem com 36 pacientes! Temos tido até casos de suicídio... E isso, fora a cobrança do paciente, que joga toda a frustração nesses profissionais, que ficam 24 horas no leito, dando banho e medicação. Outro fator agravante é que temos hoje uma demanda muito grande de gente que está para se aposentar, o que vai reforçar a necessidade de mais contratações.
Como a senhora enxerga o papel da RioSaúde, empresa da Prefeitura do Rio que realizou ano passado três concursos? Ela está conseguindo gerenciar de forma satisfatória as unidades de saúde a ela vinculadas?
Eu já estava no Conselho Municipal de Saúde na época da formação da RioSaúde, e não aprovei essa medida. A RioSaúde, em termos de gestão, não mostrou nada ainda desfavorável, mas eu a vejo de igual forma à Fundação Saúde. É o mesmo ritmo.. É concurso público, mas é um público/privado, que realiza contratações pelo regime celetista. Para os profissionais de saúde, é mais uma opção, pois é um trabalho diferente do das OSs, mas é mais uma opção que o governo tem para contratar. Mas, nós, do sindicato, somos contra qualquer tipo de contrato. Para que vamos pegar dinheiro público, colocar no caixa da OS, ou da RioSaúde, para gerenciar contrato? Deveriam abrir concurso. Por que não querem abrir concurso?
O prefeito Marcelo Crivella vem reivindicando a gestão de todos os hospitais federais no Rio. A Prefeitura do Rio tem, na sua visão, condições de assumi-los?
Particularmente, eu vejo isso como bom, pela questão do gerenciamento. Acho que o gerenciamento da prefeitura, em questão de organização, administração, é bom, se comparado ao do estado, que é péssimo. Quero acreditar que ele esteja fazendo isso para melhorar a questão do famoso Sisreg (sistema de regulação), responsável pelo agendamento de consultas. Isso pode ser um dos fatores pelo qual ele pode querer fazer isso, porque hoje o Sisreg está com filas imensas, por causa das poucas vagas em nossos hospitais federais. Mas, mesmo sabendo da situação do município, ele quer pegar a gestão dos hospitais federais? É algo que precisa ser pensado. Atualmente, são nove hospitais federais, se cada um deles abrisse mais vagas do que já abre (que são pouquíssimas), nossa fila de espera seria bem menor.
Em relação aos hospitais universitários federais, a UFF (Hospital Antônio Pedro) e a UniRio (Hospital Gaffrée e Guinle) já aderiram à Ebserh e estão com concursos em andamento. A senhora acredita que a gestão e a qualidade do atendimento à população vão melhorar com esse reforço de pessoal e com o gerenciamento da Ebserh?
Nós tivemos em 2013, 2014 e 2015, em todas essas universidades, principalmente na UFRJ do Fundão, discussões sobre a Ebserh. Nós brigávamos muito para que isso não entrasse, mas entrou, atropelando o sindicato, o conselho e o povo. Agora, eles estão abrindo concurso para a área de saúde, mas eu enxergo da mesma forma que enxergo a RioSaúde: com muita desesperança. Vão colocar na mão de uma contratada para contratar profissionais em regime celetista… A Ebserh e a RioSaúde são diferentes, sim, mas no fundo dá no mesmo, porque quando acabar a verba, quem sofrerá na ponta é o profissional que deixa de receber… E sofre o assédio de ter que ir trabalhar, caso contrário leva falta.
Como a senhora enxerga a decisão da Justiça Federal de obrigar o governo federal a abrir concurso para contratação de efetivos e uma seleção para contratação de temporários para o Hospital Clementino Fraga, da UFRJ, para substituir extraquadros?
A UFRJ é a única universidade que resiste a aderir à Ebserh. Ela está num jogo de damas. Pois o governo reluta em abrir concurso público, por isso a UFRJ está fazendo esse trabalho de contratação. O governo federal é um massacrador, que nem as OSs. Então, eles mandam fazer o que está acontecendo hoje. Não falam para abrir concurso, mas para contratar.. Querem terceirizar tudo. O serviço público te dá muita oportunidade para você estudar, pois não tem isso de "passar pela janela", como acontece com essas contratações que possuem muitas indicações e gente sem competência ingressando. E quem sofre com isso é o paciente, na hora do erro médico, da enfermagem, do erro de qualquer profissional que não for bem capacitado para esse ofício que deveria ser público, não privado.
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