Terceirização que ameaça concursos recebe críticas

Terceirização que ameaça concursos recebe críticas

Tamanho e Tipo:
Preço:

Leia mais


A Câmara dos Deputados reiniciou, na última quarta-feira, dia 8, com possibilidade de votação na mesma data, a análise do Projeto de Lei 4.330/04, que regulamenta a terceirização no país. A proposta estende a possibilidade de contratação de terceirizados para todas as atividades, até mesmo as finalísticas, inclusive nas empresas públicas e sociedades de economia mista nos âmbitos da União, estados, Distrito Federal e municípios. O projeto representa uma ameaça à realização de concursos nessas instituições e gera críticas de especialistas e parlamentares. Órgãos públicos, autarquias e fundações não serão afetados caso o texto que trata da questão não seja alterado.

O retorno do projeto à pauta da Câmara trouxe de volta também o medo de que a sua aprovação decrete o fim dos concursos públicos. Porém, no caso dos órgãos da administração direta, autárquica e fundacional, as seleções democráticas foram resguardadas já no primeiro artigo do projeto de lei. Sendo assim, instituições como Polícia Federal, Instituto Nacional do Seguro Social e Banco Central permanecem podendo terceirizar apenas atividades-meio, a exemplo de copa, limpeza e recepção.

Por outro lado, espera-se que a entrada em vigor da lei tenha grande impacto nas empresas públicas em geral, tais como Correios, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Petrobrás. O presidente da Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos (Anpac), Alexandre Crispi, acredita que essas instituições farão uso imediato dessa prerrogativa. "Isso vai prejudicar 50 mil candidatos que assumiriam vagas nessas empresas nos próximos cinco anos", apontou ele, acrescentando que a medida afetará, ao todo, 8 milhões de candidatos que estudam para concursos atualmente no país.

Segundo Crispi, o maior receio da Anpac é que com a liberação irrestrita das terceirizações, as estatais se tornem 'cabides de emprego', com a contratação de diversos apadrinhados políticos. "Serão feitas articulações políticas para a inclusão de pessoas nessas instituições por meio das empresas terceirizadas. Voltaremos à época dos trens da alegria", alertou. "Se essa lei for aprovada do jeito que está, será o maior retrocesso na história dos concursos públicos", lamentou ele. O vice-presidente da Anpac informou ainda que a associação vem trabalhando para que as empresas públicas sejam excluídas do projeto de lei. "A Anpac concorda com a lei, mas não para as empresas públicas." Ele afirmou que caso não seja possível a modificação na Câmara, as negociações seguirão sendo feitas no Senado e, caso necessário, no Executivo, por ocasião da sanção presidencial.

E a luta dos críticos ao projeto de terceirização não deve acabar após a eventual promulgação da lei. Isso porque ela pode ter a sua constitucionalidade questionada no Supremo Tribunal Federal (STF), já que o Artigo 37 da Constituição estabelece a necessidade de concurso também para o ingresso em emprego público, como são denominados os vínculos nas estatais. "Ainda aí o ingresso depende de concurso. A Constituição é expressa", afirmou a diretora-geral do Instituto Brasileiro de Direito Constitucional (IBDC), Maria Garcia. "A aprovação dessa lei vai trazer muita discussão", observou.

Ela explicou que a constitucionalidade da futura lei poderá ser questionada pelas autoridades e instituições elencadas no Artigo 103 da Constituição, estando entre eles confederações sindicais e entidades de classe de âmbito nacional. É o caso, por exemplo da Confederação Nacional dos Servidores Públicos Federais (Condsef), que está acompanhando de perto a tramitação da proposta no Congresso Nacional e que é contra a terceirização no serviço público. A entidade argumenta que a reposição da força de trabalho por meio de concursos é um dos itens prioritários da pauta de reivindicações da maioria dos servidores dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.

Antes mesmo da aprovação do projeto de lei, a terceirização em atividades-fim já foi verificada nos Correios. Em outubro do ano passado, a juíza Audrey Choucair Vaz, da 15ª Vara do Trabalho de Brasília, determinou a convocação de aprovados em cadastro de reserva após a constatação do uso de terceirizados em funções que deveriam ser desempenhadas por concursados. A empresa nega o uso de terceirizados em atividades-fim e já informou que irá recorrer da decisão. De acordo com a Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares (Fentect), a empresa possui cerca de 30 mil terceirizados atuando na atividade-fim.

O secretário-geral da Fentect, José Rodrigues, também criticou o projeto e afirmou que a sua aprovação irá "escancarar" a terceirização nas estatais. "Cairão por terra todas as decisões que impedem o uso de terceirizados em atividade-fim", observou, afirmando que, no caso dos Correios, em alguns estados já há decisões transitadas em julgado impedindo a terceirização, por ora irregular. "As empresas irão à Justiça para reverter essas decisões." Ele afirmou que a promulgação da lei poderá sim, no caso dos Correios, sepultar os concursos para a contratação de servidores efetivos, lembrando que atualmente a estatal planeja, inclusive, realizar uma seleção para a contratação de temporários. "Se houver concurso, vai ser no menor número possível. E com isso vai aumentar a precarização do serviço", apontou ele, justificando a avaliação com a elevada rotatividade dos terceirizados.

Segundo José Rodrigues, a Fentect se reuniu com parlamentares de partidos como PT, PC do B e Psol que se disseram contrários ao projeto de lei. Ainda assim, o sindicalista afirmou que não há perspectiva do projeto ser barrado na Câmara. O sindicalista afirmou que caso a lei seja sancionada, a Fentect irá propor ação de inconstitucionalidade. "A possibilidade jurídica que houver, nós vamos buscar."

De autoria do deputado Sandro Mabel (PMDB/GO), o projeto de lei tramita na Câmara há dez anos, sendo fruto de projeto anterior, de 1998. A discussão no âmbito da Casa deverá, no entanto, ser finalmente concluída, já que, segundo o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o projeto será o único item da pauta até que a sua votação seja finalizada. A proposta divide opiniões inclusive com relação a seus efeitos na iniciativa privada, sobretudo nas questões ligadas à garantia de direitos dos trabalhadores.

Serviço

Outras Informações – Aqui
  Concursos Públicos Aqui
Dicas para Concursos - Aqui

Via: Folha Dirigida

Para mais informações consulte o nosso blog.

0 Comentários

Contact form

Nome

E-mail *

Mensagem *